sexta-feira, 11 de junho de 2010




Brincadeiras antigas. Porque não brincar?
Por Carolina Araujo Lopes


Brincadeiras de rua: amarelinha, corrida, queimada, pique...fazem parte da lembrança de muitas pessoas, mas participam cada vez menos do dia-a-dia das crianças.
Ultimamente as crianças têm menos contato com outras, brincam menos com os pais (com os adultos e crianças de maneira geral). Porque isso acontece?
Para essa pergunta pode-se encontrar inúmeras respostas. Mudanças no dia-a-dia das pessoas sempre ocorreram, porém, atualmente a mudança de costumes em relação à brincadeira está cada vez maior de uma geração para outra. Algumas coisas vêm contribuindo para essa mudança na sociedade, essa transformação no cotidiano das pessoas, como:
• A violência, que a cada dia trás mais medo aos moradores das grandes cidades e, de certa forma, impede que as crianças brinquem na rua;
• A correria cada vez maior e mais precoce para se preparar as crianças para o mercado de trabalho (cursos de inglês, espanhol, informática...);
• A necessidade dos pais trabalharem mais para possibilitarem aos filhos uma vida melhor (e por isso não têm tempo de brincar com as crianças e quando têm, querem descansar);
• O valor maior dado ao "Ter" do que ao "Ser". Assim, mesmo que inconscientemente, os adultos de um modo geral pensam estar fazendo um bem maior à criança trabalhando muito para que ela possa "Ter" o brinquedo que quer e acaba não pensando que ela não tem com quem brincar;
• A redução das famílias, que cada vez têm menos filhos e assim a criança fica ainda mais privada da relação cotidiana com outras crianças fora do ambiente escolar;
• Tudo isso aliado às novas tecnologias que fazem os brinquedos mais diferentes e interessantes, mas que não sugerem (ou mesmo não possibilitam) o contato com outras pessoas (é apenas a criança e o jogo de computador ou vídeo-game, mais ninguém).
Essas transformações que vêm ocorrendo com a infância estão diretamente ligadas à transformação ocorrida nas famílias. O livro "Cultura Infantil, a construção corporativa da infância" diz que:
As noções tradicionais da infância como um tempo de inocência e de dependência do adulto foram minadas pelo acesso das crianças à cultura popular durante o século XX. Quando a infância começou a mudar, nos anos 50, 80% das crianças viviam em lares onde os pais biológicos eram casados um com o outro. Não é preciso dizer que as famílias mudaram durantes os últimos cinqüenta anos. Antes do final dos anos 80, o número de crianças que viviam com os dois pais biológicos caiu para meros 12%.
Também é importante lembrar que brincar faz parte do desenvolvimento da criança e que as brincadeiras oferecem diversão e entretenimento, além de ajudar no aprendizado. Além das "brincadeiras de rua", as brincadeiras nas escolas muitas vezes também ficam prejudicadas por conta da preocupação cada vez mais cedo com o mercado de trabalho, pois "não se pode ‘perder tempo’ com coisas que não trazem resultados concretos", foi o que ouvi uma vez em uma entrevista a uma professora de ensino fundamental. Ao contrário, acredito que os jogos e brinquedos estimulam a inteligência e ao mesmo tempo exercitam a concentração e atenção. Através dessa atividade agradável a criança enfrenta suas tensões diárias, relaxa, ficando mais calma. A linguagem verbal torna-se fluente e ela aprende seus limites, respeitando-os.
Algo que acredito estar se perdendo um pouco também é a brincadeira tradicional infantil (aquela que é filiada ao folclore). Normalmente ela incorpora a mentalidade popular e se expressa, sobretudo, pela oralidade, o passar de geração em geração. Considerada como parte da cultura popular, essa brincadeira guarda a vida de um povo em certo período histórico. Essa cultura não-oficial, está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo. Por ser um elemento folclórico, a brincadeira tradicional infantil assume características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade. Não se conhece a origem da amarelinha ou do pião. Seus criadores são anônimos. Sabe-se, apenas, que provêm de práticas abandonadas por adultos, de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos.
A cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar. Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança, a brincadeira tradicional infantil garante a presença do lúdico, da situação imaginária.
A tradição e universalidade das brincadeiras assentam-se no fato de que povos distintos e antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincaram de amarelinha, empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma em algumas culturas. Tais brincadeiras foram transmitidas de geração para geração através de conhecimento empíricos e permanecem na memória infantil. Esse tipo de brincadeira é que receio estar diminuindo em grande velocidade e que essa mudança que a tecnologia vem impondo ao mundo venha a destruir séculos de histórias, memórias e culturas de lugares sem pedir licença. Não estou aqui condenando as TVs, vídeo-games e computadores, apenas acho que os pais devem estar mais atentos aos debates sobre essas novas linguagens. Dosar o uso do computador, local, distância do aparelho, postura da criança e estabelecer regras e horários de uso fará com que a criança tenha um equilíbrio entre essas e outras atividades.

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